Ontem eu fui no show do grupo de samba Sururu na Roda, no teatro da UFF. nem preciso falar da qualidade de som, instrumental incrível, composto por dois na percurssão, uma no violão e uma no cavaquinho, e suas vozes incríveis também, fazendo acordes, cantando macio, cantando, chorando, construindo acordes, harmonizando. Lindo.
Mas o que me chamou muito a atenção foi a forma com que o espetáculo foi desenvolvido. Como já falei, ele aconteceu no teatro da UFF, portanto, poltronas, todos sentados, olhando admirados e contidos, com aplausos ao fim das músicas. Eu poderia falar aqui que o show aconteceu como uma ópera, mas os aplausos entre os “atos” não me permitem falar isso. Mas sem dúvida o formato foi totalmente europeizado, quase do mesmo jeito que se vê ópera. A minha vil visão sobre esses dois gêneros musicais é: Ópera, um espetáculo para cultos, não acessível para populares, vindo das côrtes européias e importado para o Brasil sem quase qualquer modificação; Samba, uma manifestação musical popular, que teve sua origem, na primeira primeira metade do século XX, em morros e favelas dos centros urbanos brasileiros.
O curioso disso foi que não existia nenhum segurança ou “lanterninha” pedindo para que as pessoas ficassem sentadas. Todos permaneciam sentados porque ali era um ambiente onde, aparentemente, deveria-se permanecer sentado. A característica principal do samba, que é a dança e toda aquela energia contagiante foi suplantada pelo ambiente onde ele estava.
Com meu pouco estudo sobre sociedades disciplinares e controle, e, consequentemente, de Foucault e Deleuze, eu posso falar que ali, naquele exato momento eu tive uma experiência claríssima de controle. Não existia nenhum poder disciplinador que punia quem não permanecesse sentado, mas a disciplina já havia sido internalizada por todos, acostumados com manifestações culturais que deve-se ficar sentado naquele ambiente, que permaneceram sentados a apresentação quase toda. Levantamo-nos somente na última música, pois já estávamos em pé aplaudindo, e assim permanecemos.
Todo o evento me incomodou muito, como vocês puderam perceber no meu texto. E uma dúvida me afligiu o tempo quase inteiro.
Como muitos sabem, o samba foi uma criação das classes populares e chocou muito as classes mais “favorecidas” com seu ritmo, suas letras e seus cantores. E a grande pergunta que não saiu da minha cabeça durante todo o tempo foi: Será que daqui a 60 ou 70 anos nós vamos estar sentados em algum auditório de alguma universidade ouvindo manifestações culturais como essa do vídeo abaixo, que tanto nos impressionam pelas suas letras e danças?
Caso alguma informação esteja equivocada no post, não hesite em comentar e apontar o meu erro, ok? Também estou aberto a qualquer tipo de debate. ;)
4 comentários:
Oi, Dacal.
Eu adoro "Sururu na Roda", e fiquei chateada por ñ ter ido.
Ainda esse ano, eu fui assistir "Mulheres de Chico", lá mesmo no Teatro da UFF, e foi exatamente assim como vc descreveu.
Todos permaneceram sentados o tempo todo, e só se levantaram ao final, aplaudinho muito, enqt as meninas cantavam "Vai passar".
E sem dúvida, é incrível a forma como as pessoas estavam condicionadas a permanecerem sentadas, sem nenhum aviso prévio as impedindo de se manifestarem.
Um abraço.
Discordo em relação a forma como você estereotipou a Ópera. Ao meu ver, ela não é mais que uma peça teatral cantada. E sim, ela foi transformada em arte popular no Brasil por ninguém menos que Chico Buarque, com a Ópera do Malando.
Em relação a assistir sentado ou em pé, o ambiente contribui bastante para isso, pois se trata de um teatro e não uma casa de shows. Mas também precisamos ver que algumas culturas são assim, como vi uma vez na MTV a platéia do show do Guns assistindo sentada e aplaudindo no final, no Japão.
Realmente o local determina o comportamento das pessoas.
Cada um se porta de acordo com o ambiente e com as atitudes das pessoas a sua volta.
Espero que o dia que a "obra" do vídeo seja considerado uma "obra de arte", eu não esteja mais vivo para conferir...rsrs
Abs
olà diego guando vocè pretendi fazer um livro tenho um titulo pra voce jà ouviu falar de um indio nas ruas de paris entao um abraço de paris
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